Percepção de adolescentes escolares sobre transformações corporais, gravidez e caderneta de saúde do adolescente

ARTÍCULO ORIGINAL

 

Percepção de adolescentes escolares sobre transformações corporais, gravidez e caderneta de saúde do adolescente

 

Percepción de adolescentes escolares sobre cambios corporales, embarazo y libro de salud adolescente

 

Perception of teen school changes on body, and teenage pregnancy health book

 

 

Cláudia Patrícia da Silva RibeiroI; Mariana Cavalcante MartinsII; Fabiane do Amaral GubertII; Nádia Maria Girão Saraiva de AlmeidaI; Denise Maia Alves da SilvaII; Lucélia Rodrigues AfonsoII

I Universidade Estadual do Ceará (UECE). Brasil.
II Universidade Federal do Ceará. Brasil.

 

 


RESUMO

Introdução: a adolescência é uma etapa da vida que requer atenção e cuidados de saúde em virtude das inúmeras transformações corporais. Esta pesquisa surge da necessidade de aprofundar estudos acerca do conhecimento do adolescente sobre as transformações corporais, gravidez e existência da caderneta de saúde.
Objetivo: descrever a percepção dos adolescentes quanto às transformações corporais, riscos e consequências de uma gravidez na adolescência, pautados na caderneta de saúde do adolescente.
Métodos: estudo descritivo realizado com 10 adolescentes estudantes de uma escola pública. A coleta seguiu-se em três etapas: avaliação diagnóstica; intervenção educativa utilizando como referencial a caderneta do adolescente; e, ao final, entrevista avaliativa.
Resultados: observou-se que os adolescentes não conhecem a caderneta e demonstraram o interesse em conhecer o conteúdo.
Conclusão: não ocorre a aplicabilidade da caderneta de sáude em decorrência da não utilização das prioridades preconizadas nas políticas de saúde para o adolescente.

Palavras-chave: adolescente; caderneta; enfermagem.


RESUMEN

Introducción: la adolescencia es una etapa de la vida que requiere atención y cuidado en virtud de los muchos cambios en el cuerpo. Esta investigación surge de la necesidad de realizar más estudios sobre el conocimiento de los adolescentes acerca de los cambios corporales, el embarazo y la presencia del folleto de salud.
Objetivo: describir la percepción de los adolescentes de cómo el cuerpo cambia, los riesgos y consecuencias del embarazo en esta edad, guiados por el folleto salud de los adolescentes.
Métodos: estudio descriptivo de 10 estudiantes adolescentes de una escuela pública. La reunión fue seguida en tres etapas: evaluación de diagnóstico; intervención educativa utilizando el folleto adolescente de referencia y la entrevista de evaluación final.
Resultados: los adolescentes no conocían el libro y demostraron interés por saber su contenido.
Conclusión: no existe la aplicabilidad de libreta de salud como resultado de no utilizar las prioridades recomendadas en las políticas de salud para los adolescentes.

Palabras clave: adolescentes; libro; enfermería.


ABSTRACT

Introduction: Adolescence is a stage of life that requires care for the many body changes. This research appears from the need to carry out more studies about the knowledge of adolescent about body changes, pregnancy and the presence of the health booklet.
Objective: To describe how the adolescents perceive the changing body, the risk and consequences of pregnancy at this age, guided by the adolescents health booklet of.
Methods: Descriptive study of ten adolescents who are students of a public school. The meeting was followed in three stages: diagnosis evaluation, educational intervention using the adolescence booklet of references and the final evaluation interview.
Results: The adolescents did not know the booklet, but showed interest in knowing its content.
Conclusions: There is not applicability of the health notebook as resulted from not using the proprieties recommended by the health politics for adolescents.

Keywords: Adolescents; booklet; nursing.


 

 

INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o período da adolescência é compreendido pela faixa etária entre 10 e 19 anos, e juventude entre 15 e 25 anos.1 Essa fase é caracterizada por variadas modificações emocionais e pessoais, acompanhada de transformações biológicas e fisiológicas, que podem deixar o jovem mais vulnerável e sensível, principalmente diante das vivências ligadas a sexualidade, dentre elas a gravidez precoce.

Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revela que o índice de adolescentes grávidas está crescendo em todo o país. De 2011 para 2012 houve um aumento exorbitante de 84 % do número de adoelscentes grávidas. É interessante destacar que 18 % dessas adolescentes, com a variação de faixa etária entre 15 e 19 anos, já estavam em sua segunda gestação. No Brasil anualmente em média 700 mil adolescentes são mães. Desta forma, totalizando 2 % de gravidez precoce na adolescência entre a idade de 10 e 14 anos.2

Com isso, apesar dos adolescentes terem a cada dia maior acesso às informações sobre sexualidade e prevenção, os índices de DST/HIV e gravidez não planejada não diminuem. Tal fato reforça a ideia de que conhecimento sem a adoção de práticas saudáveis não tem se refletido no autocuidado seguro. Assim, se faz necessário promover estratégias que incentivem o jovem a refletir sobre seu comportamento, sabendo reconhecer fatores de risco e vulnerabilidade relacionados à vivência na sexualidade.

Diante do contexto que envolve o ser adolescente, torna-se relevante que a equipe de saúde da família, em especial a equipe de enfermagem, promova um trabalho de educação em saúde, a partir das necessidades ir desvelando dúvidas sobre a adolescência bem como a saúde sexual e reprodutiva, o que contribuirá na formação do adolescente para a vida e o mundo.3

Para melhorar o processo de cuidar na atenção à saúde do adolescente, o Ministério da Saúde lançou em 2009 a "Caderneta de Saúde do Adolescente". Esta caderneta é autoexplicativa, didática e promove a reflexão, englobando desde as principais transformações corporais até questões familiares, educacionais e sociais pertinentes a esta fase da vida.

A caderneta de saúde do adolescente é uma tecnologia de educação em saúde e cuidado que deve ser utilizada pelos profissionais da atenção primária, em especial o enfermeiro, por meio de uma assistência de promoção e prevenção de saúde adequada, preconizada pelo Programa de Saúde da Escola - PSE. Com relação ao uso da caderneta na saúde do adolescente, são poucas as publicações que descrevam ou abordem aspectos ligados a esta tecnologia educativa.

Considerando a educação em saúde, as tecnologias que favorecem o aprendizado têm ampliado a efetividade das ações educativas, de modo que muito se tem incentivado a produção de materiais a serem implementados no processo de empoderamento para o autocuidado.4 Assim, o empoderamento do adolescente tem o ambiente escolar como espaço importante para promoção de conhecimentos, habilidades e atitudes para mudanças de comportamento de saúde, pois é o cenário em que permanece grande parte do dia e passa a ser um local propício para o desenvolvimento de tecnologias educativas que visem à adoção de comportamento sexual saudável.5

Em vista do exposto emergiram as seguintes questões norteadoras: os adolescentes conhecem as mudanças corporais? Os adolescentes conhecem a caderneta de saúde do adolescente?

Portanto, esta pesquisa tem como objetivo descrever a percepção dos adolescentes quanto às transformações corporais, bem como acerca dos riscos e consequências de uma gravidez na adolescência, tudo isso pautado na caderneta de saúde do adolescente.

 

MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado em uma escola pública Municipal na periferia de Fortaleza – Ceará, pertencente à Secretaria Regional V.

A amostra foi composta por dez adolescentes que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: faixa etária de 14 a 16 anos e matriculados no turno da noite. Quanto aos critérios de exclusão: adolescentes com necessidades especiais.

Como instrumentos para a coleta dos dados foram escolhidas as técnicas de entrevista semiestruturada e intervenção educativa.

As entrevistas foram realizadas em dois momentos distintos: antes e após a intervenção educativa composta das seguintes questões: 1º momento - Quais as principais mudanças que ocorrem com o adolescente?; quais os riscos de uma gravidez na adolescência? 2º momento - O que você achou da caderneta de saúde do adolescente?

A intervenção educativa teve duração de duas horas e foi realizada com enfoque nos principais assuntos que apresentaram dúvidas na entrevista inicial. A intervenção foi embasada no pressuposto de Freire6 enfocando a perspectiva dialógica no processo de formação e promoção educacional. A dinâmica consistiu na distribuição das cadernetas de saúde do adolescente, abordando as temáticas contidas nelas de forma dialógica. Além disso, destacou-se a importância do adolescente ser acompanhado à Unidade de Saúde a fim de promover a sua própria qualidade de vida. Portanto, durante a intervenção realizou-se uma leitura prévia dos tópicos da caderneta com os alunos.

As temáticas discutidas foram embasadas na Caderneta de Saúde do adolescente:7,8 Adolescência: uma bela etapa da vida; Responsabilidade na adolescência; Esse sou eu!!!; Falando sobre meus direitos; Para que serve o ECA; Dicas de saúde; Alimentação saudável; Estatura; Meu desenvolvimento; Comer, falar, beijar, sorrir...; Cárie; Dentes limpos; Odontograma; Vacinas; Imunização; Estou diferente?; Espinhas; Puberdade; Estágios de Tanner – genitália; Estágios de Tanner – pelos pubianos; Importante; Higiene; Sexualidade; Conhecer, ficar, namorar...; E se acontecer uma gravidez...; Dupla proteção; Sexo seguro; Projeto de vida; Informações úteis.

Para a análise dos dados foi empregada uma abordagem qualitativa, seguindo o modelo proposto por Minayo,9 que versa sobre categorização dos dados. Portanto, foram realizadas diversas leituras do material coletado para que se pudesse descrever a categorização dos dados em temáticas relacionadas ao estudo. Análise dos dados se deu em três etapas assim distribuídas: ordenação, classificação e análise final. A primeira etapa foi de ordenação e fundamentou-se na: transcrição das falas após a escuta atenciosa das fitas; e leitura geral do material empírico coletado no campo de estudo. A segunda etapa foi de classificação dos dados, dividida em dois momentos: leitura exaustiva e flutuante dos textos contidos nas entrevistas; e leitura transversal de cada corpo ou corpos de comunicações estruturados a partir de núcleos de sentido, fazendo a filtragem dos temas mais relevantes. A terceira etapa foi de análise final dos dados.

Ressalta-se que para preservar o anonimato, os adolescentes receberam codificação em siglas (A1, A2, A3,…A10). O referido projeto de pesquisa foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da Universidade Estadual do Ceará – UECE, baseado na Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, tendo sido aprovado sob o protocolo de número 112250076.

 

RESULTADOS

A adolescência é compreendida por inúmeros aspectos. Após análise dos relatos, elucidaram-se as seguintes categorias: Transformações corporais no ser adolescente; Gravidez na adolescência: dúvidas e medos; e Caderneta de saúde do adolescente.


Transformações corporais no ser adolescente

O adolescente apresenta mudanças no estilo de vida e experiências que na maioria das ocasiões só são compreendidas pelo grupo em que o adolescente convive, por isso é importante que a família e profissionais de saúde compreendam e conheçam o "universo" em que o adolescente está inserido.

Assim, se faz necessário conhecer o que os adolescentes pensam sobre essas transformações tão comuns, podendo explorar o porquê de conhecer essas transformações:

Por que a gente fica mais esperto e sabe o que fazer se acontecer algo com o nosso corpo. (A8)

Para tirar as dúvidas das mudanças do corpo. (A3)

Por que você conhecendo o seu corpo poderá saber a causa do que está acontecendo com você. (A5)

Para que a gente não se surpreenda com as transformações que vamos passar na adolescência. (A2)


Para o adolescente, a preocupação com as transformações corporais constitui um dos pontos que mais causam desconforto e possíveis situações de vulnerabilidade aos fatores sociais. Portanto, é normal que as principais mudanças no corpo causem ansiedades, expectativas e surpresas, como foi apontado nas seguintes falas:

Crescimento de pelo em determinadas áreas do corpo humano devido às transformações na adolescência principalmente. (A2)

As coisas de crianças vai ficando para trás e as de homem adulto chega e se transforma e evolui. (A3)

O crescimento dos seios, os pelos, vem a menstruação, o aumento da altura. (A10)

Puberdade, crescimento do adolescente e a mudança de voz. (A6)


Com isso, para alguns adolescentes as transformações corporais estão atreladas ao início da vida sexual precoce e que poderá ter como consequência problemas de saúde, gravidez precoce, abalos: familiares, educacionais e sociais.


Gravidez na adolescência: dúvidas e medos

Gravidez na adolescência é uma temática que desperta interesse. Observou-se que os adolescentes buscam compreender e aprofundar-se sobre o assunto, entretanto, não têm tanta propriedade e/ou liberdade para demonstrar suas dúvidas e medos. Na maioria das vezes, o assunto é rodeado por inúmeros tabus que inibem o jovem de fazerem seus questionamentos e podem ser evidenciados nas expressões abaixo:

Transar sem camisinha é muito bom, só que se eu engravidar terei que trabalhar. (A1)

A gravidez é cheia de riscos, porque pode o pai da minha namorada saber e não vai aceitar... eu vou ter que ter responsabilidade de um pai de família. (A3)


Para alguns adolescentes os conflitos sociais, educacionais, familiares e as responsabilidades, bem como os fatores de saúde, os fazem refletir sobre os riscos de uma gravidez na adolescência. Percebe-se nas falas descritas a seguir que os adolescentes expressam os sentimentos de medo e os riscos de uma gravidez precoce neste período tão singular de suas vidas:

Pode haver doenças, conflito com a família, você tem que parar de estudar, pode haver complicações no parto. (A4)

Primeiro sem preparação emocional, segundo sem preparação do corpo, afetam os estudos ... etc. (A5)

Nossa, eu teria que parar os meus estudos. (A7)

Parar de estudar, começar a vida maritalmente cedo e muitas vezes ainda correm o risco de ser mãe solteira e até o namorado não querer. (A9)

Parar de estudar, os conflitos na família, ou então, as vezes, o namorado não aceita. (A10)


Evidenciou-se ainda, e de forma enfática, que outros adolescentes demonstram conhecer os riscos e os percursos de uma gravidez indesejada:

Transar sem camisinha, o coito interrompido ou ter uma ejaculação perto do órgão genital da mulher, isso pode fazer com que ocorra uma gravidez indesejada. (A2)

Podemos correr muitos riscos, porque os adolescentes de hoje em dia não se previnem. É preciso transar com camisinha. (A6)

Eu acho que se juntar muito cedo, transar com vários homens não é legal para o adolescente. É preciso ter cuidado na hora da fazer sexo e usar camisinha sempre. (A8)


Fica evidente, assim, que os adolescentes de ambos os gêneros, preocupam-se com as responsabilidades e as consequências de uma gravidez na adolescência. Embora nenhum deles tenha a experiência de ser pai ou mãe, o sentimento ao se expressar sobre o assunto é de inquietação, pois reflete na zona de comodismo de ser adolescente que é: "sem preocupações e sem certos deveres".


Caderneta de saúde do adolescente

Após a distribuição das cadernetas para os adolescentes, observou-se que dos dez adolescentes apenas dois conheciam esse material. Portanto, é oportuno salientar o relato desses alunos quando questionados sobre como se deu o conhecimento da caderneta: estava de suspensão das atividades de sala de aula e fiquei na biblioteca, lá ao procurar um livro para passar o tempo...achei legal as gravuras da caderneta e ai peguei pra ver (A3); meu irmão trabalha em um órgão da Prefeitura e levou a caderneta para eu conhecer (A6).

Deste modo, percebe-se que a caderneta não foi apresentada e/ou utilizada com esses alunos até o presente momento, seja pelo professor ou profissional de saúde, sendo, portanto, um fato preocupante diante da relevância e aplicabilidade da referida caderneta evidenciada pelo Ministério da Saúde.

Em continuidade, realizou-se a intervenção educativa, na qual os adolescentes puderam analisar a caderneta, verificando os conteúdos e comentando sobre o interesse no material:

Eu achei legal, as principais mudanças do corpo, saber a partir de quando ocorre a gravidez. (A4)

Muito boa, bem informativa... interessante, tem que ter uma alimentação variada e saudável. (A5)

Interessante, fiquei muito feliz em saber que as espinhas não são coisas de outro mundo. (A9)

Eu achei muito importante saber sobre a caderneta, gostei muito de compreender um pouco mais sobre o sexo seguro e é importante a gente ter as intervenções educativas. (A8)
Legal, até por que nos informa de nosso próprio corpo feminino, prevenimo-nos de doença como DST etc. (A9)

Eu achei muito bom, é bem importante, para a gente saber sobre o nosso corpo, saber sobre os riscos na adolescência. (A10)


Os adolescentes destacaram a necessidade da caderneta, pois esta apresenta temáticas significativas, educacionais e fundamentais para se trabalhar as dúvidas sobre as transformações corporais e o desenvolvimento sadio do corpo.

Ressalta-se que a caderneta de saúde do adolescente é um material educativo aceitável, aplicável e prático para ser trabalhado com os jovens uma vez que contém assuntos inerentes, pertinentes e interessantes ao público em questão.

 

DISCUSSÃO

No adolescente, as transformações físicas são mudanças inadiáveis e inerentes a esse período da vida. Ocorrem também alterações cognitivas, sexuais, morais, sociais, culturais e de valores onde todos estão interligados a reorganização de sua nova identidade.10

Na presente pesquisa, ficou bastante claro, para os adolescentes, que as transformações corporais tratam de uma questão fundamental para elucidar dúvidas e tabus. Desta forma, pode-se enfatizar que a atenção do profissional e dos familiares se reflete significativamente no processo de saúde.

Um dos maiores desafios para os serviços de saúde é a aplicação de políticas de saúde com qualidade, em especial a divulgação e efetivação do uso da caderneta de saúde do adolescente, que apresenta fragmentações sociais emocionais, peculiares nesta fase vital.

Diante do exposto, faz-se necessário que os profissionais de saúde, antes de desenvolverem ações de educação em saúde tendo como público os adolescentes, procurem investigar primeiro o seu perfil e suas principais necessidades de aprendizagem, pois isso facilita a integração com o grupo e aperfeiçoa as atividades educacionais, especialmente aquelas relativas às questões preventivas. Outro ponto relevante que permeia a saúde do adolescente é a integralização e a articulação das ações de educação e saúde trabalhadas no universo escolar e que estão atreladas à aplicação das atividades elaboradas no PSE.11

É fundamental intensificar as ações educativas, em particular sobre a sexualidade e a prevenção da gravidez na adolescência, por meio de grupos de adolescentes e de conversações diretas com os jovens e a comunidade, a fim de reduzir o índice de gravidez na adolescência.12

Para tanto, sabe-se que os profissionais das Unidades Primárias de Saúde têm que ter a preparação necessária para administrar, abordar e trabalhar os principais conflitos e tabus que permeiam a adolescência. Portanto, a caderneta é um instrumento fundamental para a propagação de informações e interação de profissionais e adolescentes, pois aborda a temática da sexualidade e da gravidez na adolescência de forma dinâmica e objetiva.

Tornou-se evidente que a utilização da caderneta e a aplicação da caderneta no contexto escolar devem acontecer de forma multidisciplinar para que o adolescente possa ter embasamentos teóricos e científicos sobre a sua própria saúde.

Salienta-se a aplicabilidade da caderneta de saúde do adolescente, tendo em vista que está direcionada a essa clientela, com assuntos dinâmicos e pertinentes, ou seja, aborda questões que norteiam a compreensão do adolescente sobre as principais transformações neste percurso tão importante e sensível de sua vida.

É interessante que os profissionais de saúde implementem as intervenções educativas como rotina no atendimento ao adolescente e, assim, contribuir com a promoção da saúde destes. Sabe-se que as atividades grupais, como a leitura dinâmica da caderneta de saúde, podem amenizar as principais inquietações e colaborar para a prevenção de DST’s, gravidez precoce, uso de substâncias psicoativas, abandono escolar, conflitos familiares, sociais e religiosos. Outro ponto relevante a ser evidenciado é que, por meio do acompanhamento em grupos, os adolescentes podem trabalhar seus anseios e suas dúvidas, conhecer as principais transformações corporais, despertar a maturidade emocional e desenvolver a autoestima, dentre outros fatores que corroboram o valor e a importância das atividades em grupo.13

Destarte, a pesquisa ressaltou a não aplicação da caderneta de saúde do adolescente pelos profissionais com o grupo estudado, tendo em vista que a caderneta foi criada em 2009 e apenas dois adolescentes conheciam o material, fato este que o adolescente passa a ter seus direitos violados por não existirem políticas públicas de saúde atuante para esse público.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

No estudo, os adolescentes destacaram a importância de serem orientados quanto às transformações corporais; reconhecem também que a adolescência é um período novo em suas vidas por apresentar tantas modificações e que conhecer o próprio corpo é uma questão de saúde para sua formação. Observou-se também no estudo a preocupação dos adolescentes quanto aos transtornos e complicações de uma gravidez nesse período de vida.

Assim, o contexto escolar é um espaço dinâmico e valioso para se conhecer as necessidades dos adolescentes bem como para intervir de forma direcionada e pautada na promoção da saúde. Com isso, a escola é vista como um forte aliado às intervenções das políticas de saúde do adolescente. Dessa forma, a educação e a saúde devem agregar atividades interdisciplinares com temáticas que despertem o interesse do adolescente.

Assim, é evidente a importância da atuação de uma equipe multidisciplinar, munida de um planejamento de saúde norteado por estratégias e atividades educativas com o propósito de melhorar a qualidade de vida e saúde do adolescente.

Logo, a caderneta de saúde do adolescente é uma ferramenta de trabalho e ensino, autoexplicativa, contextualizada e interativa, com uma linguagem clara e objetiva, que aborda o crescimento e o desenvolvimento do adolescente, devendo ser uma tecnologia educacional de ampla aplicabilidade no nosso país.

 

Conflicto de intereses

Los autores declaran no tener conflicto de intereses.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

1. Brasil. Saúde Integral de Adolescentes e Jovens. Orientações para a Organização de Serviços de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2007.

2. Brasil (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2012. Rio de Janeiro; 2013.

3. Santiago LM, Rodrigues MTP, Oliveira Junior AD, Moreira TMM. Implantação do Programa Saúde na escola em Fortaleza-CE: atuação de equipe da Estratégia Saúde da Família. Rev. bras. enferm. 2012;65(6):1026-9.

4. Fontana RT, Santos AV, Brum ZP. Health education as a strategy for healthy sexuality. Journal of Research: Fundamental Care Online. 2013;5(4):529-36.

5. Freitas KR, Dias SMZ. Percepções de adolescentes sobre sua sexualidade. Texto & Contexto – Enfer. 2010;19(2):351-7.

6. Freire PA. pedagogia da libertação. São Paulo: UNESP; 2001.

7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Área Técnica de Saúde de Adolescente e Jovem. Caderneta de Saúde do Adolescente (MENINA). Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2013.

8. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Área Técnica de Saúde de Adolescente e Jovem. Caderneta de Saúde do Adolescente (MENINO). Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2013.

9. Minayo MC de S (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 29. ed. Petrópolis, RJ: Vozes; 2010.

10. Roehrs H, Maftum MA, Zagonel IPS. Adolescência na percepção de professores do ensino fundamental. Rev. Esc. Enferm. USP. 2010;44(2):421-8.

11. Silva DV, Bárbara JFRS, Oliveira JSF, Ribeiro JC, Barreto LA. Dialogando sobre sexualidade na dolescência: Um relato de experiência através do Programa Saúde na Escola. Rev. Enferm UFPE. 2015;9(Suppl 5):8486-92.

12. Gurgel MGI, Alves MDS, Moura ERF, Pinheiro PNC, Rego RMV. Desenvolvimento de habilidades: estratégia de promoção da saúde e prevenção da gravidez na adolescência. Rev. Gaúcha Enferm. 2010;31(4):640-6.

13. Nery IS, Mendonça RCM, Gomes IS, Fernandes ACN, Oliveira DC. Reincidência da gravidez em adolescentes de Teresina. PI, Brasil. Rev. Bras. Enferm. 2011;64(1):31-7.

 

 

Recibido: 29 de septiembre de 2015.
Aprobado: 11 de octubre de 2015.

 

 

Cláudia Patrícia da Silva Ribeiro. Universidade Estadual do Ceará (UECE). Rua Leblon Maia, No. 45 –Vila Peri, CEP 60730– 080, Fortaleza–Ceará. Brasil.

Enlaces refback

  • No hay ningún enlace refback.




Copyright (c) 2016 Cláudia Patrícia da Silva Ribeiro Claudia, Mariana Cavalcante Martins Mariana, Fabiane do Amaral Gubert Fabiane, Nádia Maria Girão Saraiva de Almeida Nadia, Denise Maia Alves da Silva Denise, Lucélia Rodrigues Afonso Lucelia

Licencia de Creative Commons
Esta obra está bajo una licencia de Creative Commons Reconocimiento-NoComercial-CompartirIgual 4.0 Internacional.